domingo, 26 de março de 2017

A Revolução Artesanal no Interior Gaúcho: o Rio é mesmo Grande do Sul


Wrozka Pilsen, degustada em Horizontina (RS)

Quando estou em viagem, muitas vezes a trabalho, sempre aproveito para conhecer cervejas artesanais locais. Em muitas cidades pequenas do interior, acabo surpreendido não apenas por encontrar alguma cerva local, mas também pela sua qualidade.

No final de 2014, estive no interior do Rio Grande do Sul, mais precisamente no noroeste do estado, quase divisa com a Argentina, quando acabei hospedado na pequena Horizontina, com menos de 20.000 habitantes. Sede de uma importante fábrica de máquinas agrícolas, a cidade também é conhecida por ser terra natal da Gisele Bündchen. Prova de que por lá as cervejas artesanais também estão em alta é o fato de que a faculdade local (FaHor) tem oferecido cursos específicos de brasagem, entre outros ligados ao tema.

Chope da Hettwer Bier, de Três de Maio (RS)
Sem encontrar cervejas de Horizontina, descobri algumas opções de cervejas da região justamente no restaurante do Ouro Verde, hotel em que estava hospedado .Primeiro comecei com um chope da Hettwer Bier, pequena cervejaria da cidade vizinha cidade de Três de Maio. Optei por uma pilsen, que se mostrou bem carbonatada, com espuma persistente e aparência límpida. Sua refrescância caiu muito bem diante do calor que estava fazendo.

Pesquisando, descobri que a Hettwer, inaugurada em 2013, produz 10 estilos de cervejas e faz questão de afirmar que segue a Lei de Pureza Alemã (Reinheitsgebot), ou seja, não utiliza cereais não maltados.

Depois, ainda no mesmo restaurante, descobri uma cerveja artesanal engarrafada chamada Wrozka. Trata-se de uma cervejaria da pequena cidade de Santo Antonio de Palma (menos de 2.200 habitantes), localizada a cerca de 310 km de Horizontina.

Tomei uma Pilsen que apresentava características semelhantes à Hettwer, embora com aparência um pouco menos límpida pelo fato de não ser filtrada. Sabor levemente adocicado e bem equilibrada, lembro que deixou um retrogosto bem agradável.

No rótulo, a águia do brasão da Polônia (o mesmo utilizado pela seleção polonesa de futebol). O nome, Wroska, significa "fada" em polonês. Os evidentes sinais de que se tratava de uma cervejaria artesanal feita por descendentes de poloneses contribuíram para que eu descobrisse que o município de Santo Antônio de Palma, localizado na região serrada do estado, foi fundado justamente imigrantes poloneses (além de italianos). Cerveja artesanal também é cultura.

Terminei a noite satisfeito não só pela qualidade de ambas, mas por constatar que a revolução que as  artesanais estão fazendo não se restringe aos grandes centros. Não é à toa que o Rio Grande do Sul tem se destacado em concursos de cervejas!

sexta-feira, 17 de março de 2017

Um pouco de história: a concorrência desleal com as grandes cervejarias

Foto da Revista O Malho, de 3/11/1917, retrantando romeiros com suas cervejas
(fonte: livro de Teresa C. de N. Marques aqui citado, originalmente da Hemerteca Digital Brasileira)

De acordo com reportagem do jornal Valor de fevereiro de 2016, o mercado de cervejas artesanais no Brasil vem apresentando um forte crescimento anual, da ordem de 30% a 40% (http://www.valor.com.br/cultura/blue-chip/4418136/cerveja-artesanal-nao-e-moda). Esse cenário pode ser facilmente constatado nas principais cidades brasileiras nos últimos 10 ou 15 anos, principalmente ao nos depararmos com a quantidade crescente de bares e cervejarias destinados às artesanais.

Mas esse cenário favorável não deixa de enfrentar obstáculos, principalmente por parte dos grandes fabricantes, hoje conglomerados multinacionais, que já deram mostras de que estão sentindo o crescimento das artesanais. Uma das formas que a Ambev tem atuado para reagir a esse crescimento é através de fabricação de cervejas que possam disputar o mercado com as artesanais, com preços tão competitivos que chegam a levantar suspeita de que estejam abaixo do custo de modo predatório.

Livro da historiadora Teresa Cristina de N. Marques
Interessante que esses obstáculos para as artesanais não é novidade. No bem documentado livro “A Cerveja e a Cidade do Rio de Janeiro - de 1888 ao início dos anos 30” [1], a historiadora Teresa Cristina de Novaes Marques ilustra como, no inicio do século XX, a Brahma estava incomodada com a concorrência com as cervejarias pequenas de alta fermentação que estavam incorporadas ao cotidiano da população trabalhadora da cidade, como a Guarda Velha e a Santa Maria. 

Uma das armas que a Brahma utilizava para combater o crescimento dessas pequenas cervejarias era condicionando a comercialização de suas cervejas em bares que contraíam empréstimos a cláusulas de exclusividade estabelecidas no contrato. Além disso, tal como agora, a Brahma passou a fabricar alguns tipos de cervejas mais populares, com menores preços para concorrer diretamente com essas pequenas cervejarias. Nesse sentido, passou a produzir tanto aquelas de baixa fermentação (lager), tal como a Ipiranga, registrada em janeiro de 1900; como a ABC, registrada em 1905, de alta fermentação (ale) mas pasteurizada, diferentemente daquelas das cervejarias menores.

Além disso, como parte da estratégia de eliminar as pequenas cervejarias e ampliar o domínio sobre o mercado, a Brahma se associou ao empresário da noite Pascoal Segreto para que no restaurante do seu teatro fosse vendida exclusivamente as suas cervejas ABC e a Guarany (produzida desde 1902), limitando ainda mais o espaço para as concorrentes menores, prática que ao longo do tempo se tornou corriqueira entre as grandes indústrias cervejeiras e os bares e restaurantes.

Outro obstáculo enfrentado pelas cervejarias menores era a forte campanha de jornais de grande circulação, como a Gazeta de Notícias  que passavam a questionar pequenas cervejarias de alta fermentação como a Santa Maria que produzia cerveja no fundo do salão e a vendia no salão principal. Em 1912, sob o título "A fábrica de de cerveja Santa Maria: horrorosa imundice; nos domínios das ratazanas", a Gazeta publicou reportagem criticando as condições de higiene do local e o perfil dos frequentadores, desdenhando inclusive do seu paladar e do gosto por tremoços (MARQUE, T.C.N, 2010). O ambiente descrito nas reportagens era típico das pequenas fábricas de cervejas de alta fermentação, que dispunham, no mesmo espaço da produção, um salão onde se bebia, jogava e comia, além de espaço para alguma atração musical eventualmente Esse local era frequentado por operários, imigrantes, brasileiros e até mesmo trabalhadores negros, cenário que torna mais fácil a compreensão do preconceito que enfrentavam.

Após a Santa Maria ter recebido apoio do Jornal do Comercio, que no dia seguinte teceu elogios à fábrica e tratou com mais benevolência seus frequentadores, a Gazeta  novamente veio à público fazer acusações, chegando a defender inclusive a necessidade de caçar a licença daquela cervejaria. Embora não houvesse qualquer evidência de ligação entre o jornal Gazeta de Notícias e a Brahma, era evidente que ambos estavam em campanha para depreciar as cervejarias de alta fermentação.

A resistência às campanhas difamatórias não era trivial, pois mesmo que esses pequenos cervejeiros mantivessem entidades associativas até certo ponto politicamente ativas, tinham poder limitado para influenciar, por exemplo, decisões de política fiscal, que muitas vezes as prejudicavam.

Diante desse contexto, fica mais fácil compreender porque demorou tanto tempo para que as artesanais conseguissem, de certa forma, romper com a ditadura das grandes indústrias cervejarias com suas American Standard Lager de menor qualidade. A luta nunca foi fácil. 


Nota: 
[1] Grande parte do que aqui reproduzi em termos históricos decorre do livro citado da historiadora Teresa C. de Novaes Marques, presente que ganhei de outra historiadora e grande amiga Gabriela Sampaio.

sábado, 11 de março de 2017

O Festival Brasileiro de Cervejas e as ACerVas

Banner do Festival Brasileiro da Cerveja (fonte: http://festivaldacerveja.com/sistema/)

Nessa semana foi realizado o Festival Brasileiro de Cerveja em Blumenau, que está se encerrando hoje, 11 de março.Trata-se de um dos maiores eventos cervejeiros da América Latina e a escolha de Blumenau não poderia ser mais adequada, já que essa cidade catarinense, colonizada em grande parte por imigrantes alemães, foi uma das primeiras cidades a contar com fábricas de cervejas, sendo que há registros de que, em 1880, já contava com nove unidades e desde então despontou como uma espécie de capital nacional da cerveja. Não é a toa que a versão brasileira mais famosa da Oktoberfest é realizada ali.

Neste Festival (que infelizmente eu não pude comparecer), os presentes aproveitam para não apenas degustar o que há de melhor do universos das artesanais de diversos estados brasileiros, como também para trocar ideias com mestres cervejeiros ou com outros apreciadores, além de fazerem cursos diversos.

Destinado exclusivamente às microcervejarias e às artesanais (sem presença das grandes fábricas como Ambev, Brasil Kirin, Heineken e Petrópolis), esse evento acaba adquirindo uma importância ainda maior no meio e contribui para a difundir ainda cultura cervejeira.

Nos primeiros dias, foi realizado um concurso anual que contou com mais de 2000 rótulos inscritos, de cerca de 330 cervejarias, divididas em mais de 140 estilos diferentes que foram submetidos à apreciação de 60 jurados (metade estrangeiros, totalizando 20 países diferentes).

Embora os estados do Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) e São Paulo tenham conquistado o maior número de medalhas, merece destaque o fato de que 12 estados diferentes (de todas as regiões do Brasil) conquistaram alguma medalha.

Na categoria geral, o primeiro lugar ficou com a Tupiniquim (de Porto Alegre, RS), seguida pelas curitibanas Bodebrown e Bier Hoff. No Paraná, onde resido, foram 47 premiações. Entre a quantidade de cervejas premiadas, podemos destacar a Bodebrown (com 11 rótulos), a Bier Hoff (9), a Morada (5), a Way (4),a Ogre Bier (3) e a Wensky (2), além de outras como a Swamp e a Asgard que também tiveram cervejas premiadas.

Número de medalhas por Estado (fonte: http://festivaldacerveja.com/concurso/downloads/Resultado_2017.pdf)

Além desse concurso, ocorreu ainda uma Feira voltada para profissionais do ramo, com mais de 50 expositores de insumos e equipamentos do mais diversos, distribuídos em uma área de 5000 m2.

No último dia ocorreu ainda um encontro de cervejeiros caseiros das ACervAs, as associações de cervejeiros artesanais de diversos estados. Tratam-se de organizações sem fins lucrativos criadas com o objetivo de reunir cervejeiros domésticos para trocarem ideias, receitas, aprendizados ou ainda para que consigam maior poder de barganha para aquisição de insumos e equipamentos (BELTRAMELLI, M. 2014). As ACervAs se organizam por estados e agregam, basicamente, aqueles cervejeiros que realizam a brassagem em panelas em suas casas, de modo mais rústico. Amadores (no sentido de que não dependem das suas cervejas para sobreviver), normalmente os cervejeiros caseiros são apaixonados pela brassagem e não relutam em participar de encontros, fazer cursos, e ler bastante a respeito.

Drakkar, na Noite das Artesanais
A primeira ACervA que se têm registro foi a ACervA Carioca, constituída em 1996 por 18 cervejeiros (homebrewers) e desde então passou a organizar concursos e encontros. Em fevereiro deste ano, estive em um encontro denominado "Noite das Artesanais" promovido pela ACerva Paranaense, no Drakkar, uma importante cervejaria em Curitiba. Lá tive o prazer de conhecer alguns dos cervejeiros caseiros, degustar diferentes cervejas oferecidas e ainda conhecer um pouco a estrutura da sua organização. A ACerva-PR tem realizado eventos dessa natureza constantemente visando difundir as cervejas artesanais. 


O próximo evento será o IV Concurso Sul Brasileiro de Cervejas Caseira, a ser realizado entre os dias 28 a 30 de abril. A importância da ACerVa na difusão da cultura cervejeira é tão grande que pretendo abordá-la ainda em outras postagens.

Esses cervejeiros caseiros associados ou não nas ACerVas acabam se diferenciando daqueles que já possuem uma fábrica própria, os quais podemos chamar de microcervejarias, que embora não deixem de ser artesanais, possuem uma capacidade de produção e distribuição maior. Um bom exemplo das microcervejarias é justamente essas que citei entre as que foram premiadas no Festival da Cerveja, como as curitibanas Bodebrown, Morada e Way. No Paraná, as microcervejarias possuem uma associação própria, denominada Procerva - Associação das Microcervejarias do Estado do Paraná, que busca fortalecer a representativa do setor no mercado brasileiro.

Que essas associações continuem firme no trabalho de difundir a cultura cervejeira, seja em simples encontros, seja em concursos nacionais como este récem encerrado em Blumenau. A revolução artesanal passa por isso. 








segunda-feira, 6 de março de 2017

Opa! Tem cerveja artesanal até no Psicodália

Ipa da Opa Bier, degustada no Psicodália em copo durável

Nesse carnaval estive no Psicodália, festival multicultural que ocorre anualmente em uma fazenda no pequeno município catarinense de Rio Negrinho, divisa com o Paraná. Trata-se de um evento único, onde mais de 6000 pessoas abrem mão de qualquer luxo para acampar em um ambiente de paz, respeito e harmonia. Contando com mais de 50 shows, que vão desde artistas promissores como Grand Bazaar e Francisco El Hombre, até outros bem consagrados como Ney Matogrosso e Erasmo Carlos, o festival ainda conta com outras atividades como uma tirolesa, uma trilha para bela cachoeira, um lago, cinema, teatro e oficinas das mais diversas atividades.

Além de práticas diárias de yoga, tai chi chuan e kung ku, havia ainda oficinas relacionadas com bem estar, como bordados, biodália, hambúrguer caseiros e....cerveja artesanal (entre outras). Como carnaval e cerveja têm tudo a ver, minha ideia inicial era aproveitar minha estadia lá para fazer essa oficina de modo a obter pegar dicas interessantes, fazer novos contatos e repassar a experiência para os leitores do blog. As informações básicas sobre a oficina podem ser vistas aqui: http://www.psicodalia.com.br/atracao/cerveja-caseira-sem-complicacao/ Entretanto, com número limitado de vagas, eu não consegui em inscrever a tempo e acabei perdendo a oficina. Uma pena, mas a vida que segue e fui atrás das cervejas que tinham disponíveis

Como se tratava de um evento multicultural mais alternativo, não havia aquela figura de patrocinadores, tão comuns em shows e outros espetáculos do gênero, normalmente implicando em monopólio de marcas do grande capital, impostas ao público. Desse modo, mantendo o espírito do festival, o Psicodália não tinha qualquer restrição em relação à entrada de alimentos e bebidas. Mais um ponto positivo para o festival, pois pude levar umas cervas que bem entendesse.

Dentro do espaço comercial do Psicodália (bares), entre as cervejas disponíveis tinha Heineken em lata e chopes da Opa Bier. A Heineken eu considero uma das melhores alternativas dentro do escopo das American Standard Lagers mais comerciais por não ter os tais “cereais não maltados” que transformam a cerveja em algo insosso e sem sabor. Mas não é dessas cervejas que vou abordar aqui, obviamente, pois não teria muito a acrescentar.

Quero aproveitar para falar da opção de cerveja mais artesanal que tinha por lá: a Opa Bier. Trata-se uma cervejaria artesanal originária de Joinville (SC), a 90 km do Psicodália, que iniciou suas atividades em 2006 e cresceu muito nos últimos tempos. Atualmente, pode-se dizer que a Opa exerce um certo protagonismo não só em Joinville, mas em todo estado de Santa Catarina.

Dentre as três opções disponíveis no festival pela Opa (Pilsen, IPA e Porter), acabei optando pela Ipa. Embora não tenha um amargor tão acentuado como outras do mesmo estilo, o resultado não decepcionou, pois seu final mais maltado do que outras IPAs acabou combinando bem com o calor que estava fazendo, tornando-a mais leve e refrescante. Dentro do espírito proposto para o festival, para evitar utilização de copos descartáveis, cada um adquiria seu próprio copo durável para usar o tempo inteiro (ver foto). Enfim, foi ótimo contar com cerveja desse naipe em um festival localizado em local mais isolado, apesar do preço não ser dos mais atraentes (R$ 13,00 o copo de 350 ml).

Em seu site, entre outras informações interessantes, a Opa se apresenta como a cervejaria que buscou resgatar a tradição cervejeira da cidade, apresentando um breve histórico de outras cervejarias artesanais na história de Joinville. Devido à sua colonização alemã, há uma certa tradição em cervejarias na cidade, que teria se iniciado em 1852, com a Schmalz, considerada a primeira cervejaria artesanal de Santa Catarina. Essa cervejaria pioneira utilizava milho em sua composição devido à dificuldade de se plantar cevada por aqui ou de importar a matéria prima naquela época. Ainda no século XIX, surgiram outras na cidade, como a Kuhne, a Berner (originalmente Rischbieter Brauerei de Blumenau) e a Tiede. Já no século XX, surgiu a Catharinense, posteriormente vendida para a Antarctica.

Além de recuperar histórico de antigas cervejarias joinvillenses, o site da Opa ainda disponibiliza um blog com informações interessantes relacionadas à cerveja, como escalas de amargor, harmonização, além de histórico de suas cervejas. Vale a pena um passeio por lá.

Cervejaria Opa no Pórtico  [1]
Atualmente, a Opa pode ser encontrada em diversos locais não só em Joinville, mas em todo estado de Santa Catarina. Eu, que tenho família em Joinville, já conhecia há algum tempo e, mais recentemente, pude conhecer um dos seus bares, que está localizado no Pórtico de entrada da cidade. Mostrando-se antenada, recentemente ela implementou containers com torneiras acionadas automaticamente com cartões pré-pago, chamados de Opa-Card, tal como a Bodebrown também faz em Curitiba.

Depois do sucesso da Opa, Joinville tem experimentado um boom cervejeiro e outras artesanais tem surgido por lá, como a excelente Mad Dwarf, com uma vastíssima carta de cervejas que pude experimentar recentemente, levado por minha irmã e meu cunhado (cervejaria que merecerá uma postagem específica). 

Enfim, Joinville tem se tornado outro polo cervejeiro. Diante do crescimento da produção e distribuição da Opa, o maior desafio agora é que ela consiga manter as características e a qualidade de uma boa cerveja artesanal. Vamos torcer! 


Nota: [1] Foto obtida em to obtida em http://worldwide.chat/DJ_Sunset-Bar_da_F%C3%A1brica_OPA_Bier-12_08_2016/K5jk7NK7gR0.video