domingo, 29 de janeiro de 2017

A revolução da cerveja artesanal em Saint Louis, EUA


Cartaz do filme "Os Novos Mestres Cervejeiros" (Netflix)

Hoje gostaria de indicar o filme “Os Novos Mestres Cervejeiros” (1), disponível no Netflix,  para todos aqueles interessados na revolução em curso da cerveja artesanal (trailer: https://www.youtube.com/watch?v=mJjTyz9aEsI).

Trata-se de um documentário que aborda o universo e os bastidores de cervejeiros artesanais em diferentes cidades dos EUA  (nós não estamos sós!). Tendo como fio condutor a luta e empenho pessoal para a construção da Black Shirt em Denver (Colorado), o filme discorre sobre a emergência e o fortalecimento de cervejarias artesanais naquele país, transcendendo o aspecto da cerveja em si e de suas qualidades, para identificar a filosofia por trás desse movimento. Os casos relatados abordam diferentes áreas dos EUA, passando desde Chico (Califórnia), na costa oeste, até Boston (Massachusetts), no extremo oposto da costa leste. Um dos casos abordados é da cervejaria Schlafly, que em 1991 teve a audácia, digamos assim, de se estabelecer em Saint Louis (Missouri), justamente a cidade onde funcionava a sede mundial da Budweiser (hoje Anheuser-Busch InBev - AB Inbev, a gigante do setor que dispensa apresentação).


Na frente da Schlafly, em Saint Louis, com meu cunhado.

A partir de um velho e abandonado barracão de Saint Louis, a Schlafly se instalou mesmo diante de perspectivas nada favoráveis (como é que enfrentariam a fortíssima Budweiser no seu próprio quintal?). Entretanto, conseguiram se estabelecer e hoje suas cervejas como a Pale Ale e a Dry Hopped Apa (entre outras tantas) tem fãs não só locais como no mundo inteiro, como eu aqui. 

Em 2013 tive a oportunidade de conhecer pessoalmente essa cervejaria quando fui visitar minha irmã que reside em Saint Louis. Depois de devidamente apresentados a suas maravilhosas cervejas por meu cunhado, eu e minha esposa tivemos o privilégio de conhecermos a fábrica da Schlafly.

Schlafly degustada em seu copo adquirido na fábrica 
No local, hoje já bem estruturado, funciona um restaurante com uma vasta carta de cervejas da Schlafly no barril, ou, como se diz em muitos lugares, on tap (2). Depois de almoçarmos no local, fizemos um tour, fomos apresentados à sua história e pudemos degustar diversos tipos de cervejas fabricadas no local. Confesso que fiquei encantado na época pela Dry Hopped Apa. Uma explosão de lúpulos, que concilia alto amargor com um final muito agradável. Como bons turistas cervejeiros, ainda saímos do local com alguns souvenires, tais como copo tulip, camiseta e bolachas para copos (além, é claro, de algumas garrafas).

Esse turismo cervejeiro é algo que, definitivamente, merece atenção especial. Aqui no Brasil, pouco a pouco, as cervejarias artesanais têm percebido a importância desse aspecto. Em Curitiba, cervejarias como a Bodebrown, Way e Klein, entre outras, desenvolvem atividades turísticas, aspecto que merecerá postagens específicas mais adiante. Mas ainda assim há muito a ser feito nesse sentido. Com um número de adeptos cada vez maior, a cultura cervejeira artesanal tem sim um imenso potencial turístico a ser explorado. A revolução artesanal também é turistica.

Exposição de itens que fazem parte da história da Schlafly

Por fim, outro aspecto que chama atenção no documentário “Os Novos Mestres Cervejeiros”, é que a região onde a Schlafly se estabeleceu era até então uma das mais desvalorizadas de Saint Louis. Com o sucesso dessa cervejaria (contrariando as expectativas negativas), ocorreu um processo de transformação urbana nas redondezas que teve como vetor principal justamente a instalação da cervejaria. Ou seja, a audaciosa atitude de ser criadores resultou não apenas em novas opções de boas cervejas, mas também na valorização urbana daquela parte da cidade. Ainda bem que seus criadores não se intimidaram diante dos obstáculos e insistiram no sonho. Os consumidores como eu agradecem.

(1) Original em inglês: "Crafting a Nation"

(2)    Para quem não é habituado com o universo cervejeiro artesanal, vale a pena conhecer essa explicação sobre o que diferencia cerveja engarrafada daquela que está no barril. Nem sempre a que está na garrafa é pasteurizada (que poderia fazer com que ela perdesse um pouco do seu frescor) assim como nem sempre a que é servida diretamente do barril não é pasteurizada. Para entender um pouco mais:  http://www.felicidadeliquida.com.br/2015/03/o-mito-da-cerveja-on-tap.html

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Witbier em Pato Branco e outras surpresas em uma oficina mecânica.

Mecânica Meat'n Beer em Pato Branco, PR

Em viagem de trabalho na região sudoeste do Paraná, estive uns dias em Pato Branco. Trata-se de uma agradável cidade de aproximadamente 75.000 habitantes, terra natal do Rogério Ceni e do Alexandre Pato. Mais conhecida pela sua colonização de gaúchos e pelas ruas floridas do que por ser também terra de cervejas artesanais, cheguei à cidade sem maiores perspectivas.

Mas bastou um passeio pela cidade e uma pesquisa no Google para descobrir que a revolução das cervejas artesanais fincou sua bandeira por essas terras também. Depois de passar por um barzinho que tinha chope da Insana (cerveja artesanal da Palmas, cidade perto de Pato Branco), me animei para pesquisar um pouco e descobri um bar especializado em cervejas artesanais chamado MecânicaMeat‘n Beer, que possui seis torneiras com variadas cervejas artesanais (além de bons hamburgers). Para que é adepto da boa cerveja artesanal, é fundamental encontrar bares como esses, pois são os locais onde encontramos aquelas que, devido à pequena produção, ainda não engarrafam. 

Cervejas disponíveis no dia em que estive no Mecanica Meat'n Beer
Deixando de lado as boas cervejas da Bierbaum de Treze Tílias (porque essas eu tenho oportunidade de tomar em outros locais), optei por começar os trabalhos com uma produção local de Pato Branco: IPA Jardim Elétrico, da Tomeini. Bem lupulada como uma boa IPA deve ser, o simpático nome remete a uma antiga banda de rock da cidade de Pato Branco que, por sinal, carrega o nome de um dos discos dos Mutantes, em uma clara demonstração de qual som era sua boa influência. Pelo que pude descobrir, ela foi feita por um dos integrantes da banda que resolveu homenageá-la com sua IPA. Já o nome da banda refere-se ao clássico disco dos Mutantes. Confesso que não conhecia, mas fui pesquisar e gostei do que ouvi. Lembra muito conjuntos de rock psicodélico dos anos 1970 (recomendo a canção Benedicto para conhecer: https://www.youtube.com/watch?v=IJBwHT8JDrc). O produtor dessa cerveja é um dos integrantes da banda. Enfim, a Jardim Elétrico IPA é mais uma prova de que a boa cerveja costuma estar acompanhada pela música de igual qualidade (1).


Jardim Elétrico dos Mutantes, que inspirou a banda de Pato Branco, que batizou o chope IPA

As outras duas que tomei são feitas em Curitiba mas por um cidadão de Pato Branco. Trata-se da Bertol que até então não conhecia. Primeiro experimentei a âmbar lager, bem maltada, com aquela cor clássica que caracteriza essa cerveja de boa drinkability.

Siciliana Witbier
Para finalizar a noite, a grande surpresa da noite: Siciliana Witibier. O aroma de limão siciliano já se destaca antes mesmo do primeiro gole (trouxe lembrança olfativas de caldo de cana com limão que tomava quando era criança, bem lembrado por um amigo presente). Trata-se de uma witbier que utiliza casca de limão siciliano ao invés da casca de laranja junto com a semente de coentro. Ou seja, uma cerva fiel ao clássico e refrescante estilo belga, mas que conseguiu, através de uma pequena adaptação, surpreender com um resultado magnífico.  Deu vontade de parabenizar o fabricante pessoalmente por essa obra prima, mas infelizmente ele nem página em redes sociais mantém. Mas vou pesquisar mais descobrir mais detalhes. Para quem estiver ingressando na cervejas artesanais, as witbier estão sempre entre as melhores opções por sua leveza e refrescância.


Fui embora antes de experimentar todas que desejava. No final, incluíram entre as opções uma Thai Weiss com gengibre da Barco Brewers que me deixou curioso. Fica para a próxima.

A história do bar é um capítulo a parte. Isabella e Raphael “Cherpa”, após engravidarem, resolveram que era hora de largar o estresse e insegurança da cidade grande em Curitiba e partir para uma vida nova em uma cidade com melhor qualidade de vida, mas que ainda tivesse opções para lazer e educação. A escolhida foi Pato Branco, onde encontraram em uma velha oficina mecânica um local ideal para que fosse devidamente adaptado para se transformar na cervejaria Mecânica Meat’n Beer, contribuindo para a difusão da cerveja artesanal. Com um ambiente que, mesmo repleto de artigos antigos e quadros de rock, consegue ser clean, acertaram em cheio a mão na decoração também. Enfim, muito bom ver a cultura cervejeira artesanal expandindo suas fronteiras além das capitais. Isso sim é o verdadeiro espírito da revolução artesanal. Que esse espaço tenha sucesso! 

(1)    Para conhecer mais sobre a Tomeini: https://www.facebook.com/TomeiniCervejasEspeciais/

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Recife! Cidade do mangue onde a cerva é a insurreição

Placa na frente da Apolo Beer Cafe (sem acento mesmo)

Após passar réveillon na Ponta de Serrambi, uma bela praia pernambucana, no início do ano estive em Recife e aproveitei para fazer turismo pelo centro histórico junto com amigos. No meio daquelas ruas estreitas e de fachadas antigas, nos deparamos com um pequeno espaço cervejeiro denominado Apolo Beer Café (https://www.facebook.com/apolobeercafe/).

Logo na entrada, uma pequena placa dava a senha: #beba local. Inicialmente achei que se tratava de uma espécie de clube virtual (assim como o famoso “clube do vinho") que busca difundir não apenas a cerveja artesanal, mas também café e comidas locais. Mas devidamente informado pelo pessoal do Apolo, descobri que o #bebalocal é um movimento para difundir a Cultura Cervejeira semelhante ao #supportyyourlocalbrewery existente nos EUA. Enfim um conceito que não é apenas extremamente simpático, mas que também é justamente um dos objetivos do presente blog. Assim como em viagens eu sempre procuro descobrir cervejas artesanais produzidas na região, acho que essa política também deva se aplicar, de forma mais ampla, para a cultura e a gastronomia. Ao difundirmos #bebalocal estamos valorizando efetivamente não só o produtor local, mas também viabilizando nosso sagrado direito de degustarmos verdadeiras cervejas artesanais que produzem o que há de melhor no ramo.

Mas voltando ao Apolo Beer Cafe (sem acento mesmo), trata-se de um simpaticíssimo espaço destinado aos bons cafés e cervejas, tendo como foco justamente aquelas produzidas em Pernambuco. Embora pequeno, o local é bem aconchegante e conta ainda com um sofá, semelhante ao da sala de estar da minha própria casa. Soube ainda que também rola música ao vivo, mas infelizmente não pudemos presenciar no dia e horário que passamos por lá. Espero retornar em breve para poder curtir isso também. 
Ekaut American IPA 1817, degustada no Apolo Beer Café

Dentro, sentados confortavelmente na ala do sofá, pudemos degustar na torneira uma Ekaut American IAP, bastante lupulada, com notas cítricas também, muito provavelmente decorrente da combinação de lúpulos da receita, Para conhecer mais: http://ekaut.com.br/#!/nossas_cervejas

Lembramos que nos dias anteriores, ainda na praia, pudemos degustar outra cerveja dessa mesma cervejaria (que está completando seu primeiro ano de vida). Era uma Ekaut IPA 1817, cujo nome remete à Revolução Pernambucana que nesse ano completa 200 anos. Trata-se de um movimento emancipacionista que teve como uma das causas a influência de ideais iluministas e que chegou, de fato, à tomada de poder por um período de 75 dias, quando estabelecerem um governo republicano provisório (para saber mais: http://www.historiabrasileira.com/brasil-colonia/revolucao-pernambucana). 

Ekaut APA 1817, degustada na garrafa 
A APA 1817 faz jus ao nome que leva e, como não poderia deixar de ser, também carrega bastante no lúpulo. Pessoalmente me agradou muito,. Bom saber que os ares de Pernambuco, que já inspiraram grandes movimentos revolucionários não só na esfera política, mas também na música de gente como Chico Science (de quem orgulhosamente parodiei o título dessa postagem), sopraram sobre o universo cervejeiro. Para mim, foi uma grata surpresa.

Infelizmente, devido à agenda apertada, tivemos pouco tempo para usufruir o local, mas ainda levei para viagem uma garrafa de outra cervejaria local: Maracatu IPA, da Patt Lou. Em outra postagem falarei sobre ela. 

Até o próximo episódio. 





domingo, 22 de janeiro de 2017

Bem vindos à revolução da cerveja artesanal

Decoração caseira, presente de Caroline Godoi, minha esposa e responsável pelo batismo do presente blog


Não lembro quando foi que descobri as cervejas artesanais. Deve ter sido por volta de 2009, 2010. Não sei o que veio primeiro: minha decepção com as cervejas das grandes fábricas denominadas equivocadamente de “tipo pilsen”, ou se foi o fato de passar a experimentar cervejas artesanais ou algumas boas importadas. Provavelmente um puxou o outro. O fato é que nos últimos anos definitivamente mudei meus hábitos cervejeiros, aderi ao “beba menos, beba melhor” e agora busco cada vez mais me aprofundar no universo das cervejas artesanais.

Impressionado com o número de cervejarias artesanais em Curitiba, onde resido, passei a buscar conhecer mais o universo cervejeiro. Como parte desse processo, nos últimos anos passei a ser um dos muitos internautas que, orgulhosamente (e de modo até mesmo infantil), postam fotos das cervas - preferencialmente artesanais no meu caso - que estão degustando. E fui identificando diferentes características desse universo.

Na contramão do grande mercado das então chamadas Standard American Lager, cervejeiros artesanais, em sua maioria, não se veem entre si como concorrentes. É muito mais comum escutar um elogiando a cerveja produzida por outro, do que a desdenhando. Outra característica importante é que, de certa forma, devido à pequena produção, normalmente cada um tem como foco o consumo local e pretendem continuar assim. Mais interessante do que fazer sua cerveja atingir novos mercados, para o cervejeiro artesanal é importante impulsionar aquele que visita sua região, sua cidade, seu bairro, a degustar a cerveja artesanal ali produzida.

Com uma frequência ainda não definida (com objetivo de que seja semanal), pretendo compartilhar minhas experiências cervejeiras através deste recém criado blog. Tendo como foco as cervejas artesanais, compartilharei informações diversas, dicas de livros, sugestões de bons lugares para degustar, histórias sobre cada cerveja que eu degustar, etc.  Enfim, como sociólogo que sou, a partir de experiências pessoais, pretendo não só tratar de aspectos como o processo de fabricação e seus diferentes estilos, mas desvendar um pouco mais a filosofia (digamos assim) por trás de movimento cervejeiro, dando minha singela contribuição para entendermos essa verdadeira revolução que tem ocorrido não só no Brasil mas no mundo.


Bem vindos à revolução artesanal.

PS: Acho importante informar que nesse blog as postagens são voluntárias e não sou pago pelas diversas citações e referências relacionadas à cerveja artesanal. Os elogios que surgirão são sinceros pois meu objetivo é justamente divulgar o que eu acho que merece. Minha contrapartida será a satisfação pessoal de contribuir para a valorização da cerveja artesanal.