sexta-feira, 21 de abril de 2017

Toca da Mangava: onde a cerveja e a boa música se encontram


Body and Soul da Toca da Mangava, minha preferida no dia.

No dia 1º de abril, juntamente com grandes amigos, tive a oportunidade de conhecer a Toca da Mangava, um Centro de Cultura Cervejeira (como seus proprietários gostam de definir) em Campinas (SP), mais especificamente no distrito de Sousas. Lugar rústico e extremamente agradável, a cervejaria funciona na mesma casa em que são feitas as cervejas. Um dos seus proprietários, o engenheiro de alimentos Alfeu Julio nos guiou por uma visita pelas instalações, nos apresentando orgulhosamente não só o processo de brassagem das cervejas, mas também contando um pouco da sua história. 

Alfeu Júlio apresentando sua microcervejaria
O nome Toca da Mangava vem do fato de que logo nas primeiras brassagens, tiveram que conviver com uma vespa mangava (conhecida também como mamangava), provavelmente atraída pelo cheiro doce exalado no processo de mosturação. Intrigados, os cervejeiros descobriram que a toca da Mangava ficava exatamente no local escolhido para fazer a cerveja. E descobriram que ainda que a Mangava tem, como característica, o fato de que se trata de um inseto que voa sem que tenha características aerodinâmicas para isso (sua cabeça é muito grande e as asas muito pequenas) [1]. Resolveram adotar o nome então, utilizando a superação da vespa como inspiração para eles.

Naquela ocasião, a Toca da Mangava estava lançando a Mr. Rabbit, uma Robust Porter com cacau. De modo geral, a denominação do estilo Porter (carregador em inglês) tem sua origem no século XVIII quando Ralph Harwood, proprietário de uma antiga cervejaria em um bairro operário de Londres resolveu criar uma cerveja bastante robusta para alimentar os carregadores que ali viviam. Com sabor moderadamente forte, a presença de cacau casou bem com malte queimado, dando à cerveja uma aparência bem escura e uma espuma bege. Quem tiver interesse em conhecer, nesse final de semana (de 21 a 23 de abril), a Toca da Mangava está participando do Festival Cultura Cervejeira em Campinas.

Mr. Rabbit teve seu nome inspirado em uma canção. Trata-se de uma música folk que foi brilhantemente gravada em 2002 por Paul Westerberg, no álbum Stereo. Ex-vocalista dos Replacements, banda de punk rock dos anos 1980 de Minneapolis, EUA, Paul Westerberg fez um arranjo bem consistente a essa canção, agora imortalizada na cerveja. 

Assim como a Mr. Rabbit, lançada naquela ocasião,  as demais cervejas feitas na Toca da Mangava têm seus nomes de batismo inspirados em canções (inclusive tem uma lista no Spotify para que possamos escutar suas cervas - procurem a playlist "TOCA Inspirações"). Aproveitando a opção que o cardápio dispunha de uma degustação geral, experimentamos as outras cinco cervejas, começando pela Move, designada como sport beer devido à sua leveza e baixo teor alcóolico, que leva o nome de um clássico do jazz de Denzil Best, imortalizada por Miles Davis.
As outras quatro cervejas, que fazem parte do portfólio fixo, são as seguintes:

  • Pretty Woman -  um blonde ale que homenageia  esse rock de Roy Orbison dos anos 1960 (e regravado por vários outros, incluindo Van Halen);
    Summertime, a APA bem assertiva, da escola americana
  • Body & Soul - uma belgian blond ale (a que mais apreciei no dia) que presta justa homenagem a esse clássico do jazz, conhecido tanto pela interpretação de Sarah Vaughan, como também por um dueto espetacular de Tony Bennett com Amy Winehouse (vale a pena assistir no Youtube, de preferência tomando a cerveja)
  • Summertime - uma APA com sabor bem assertivo. Uma das melhores canções de George Gershwin, tantas vezes regravadas por vozes das mais diversas (eu, particularmente, tenho a interpretação da Janis Joplin como uma das melhores músicas da história).
  • Black Bird - uma Porter, batizada em homenagem a uma das mais belas composições do Paul McCartney, que teve como inspiração os conflitos raciais da década de 1960 nos EUA.

Toda essa relação da cervejas da Toca da Mangava com a música é algo natural. Seu mestre cervejeiro, Alfeu Julio, tocava cavaquinho e fazia vocal no  grupo Bons Tempos, um excelente conjunto de samba de raiz, Em 2005, o Bons Tempos gravou um excelente CD e DVD do espetáculo "Ary, o Brasileiro", baseado na obra de Ary Barroso. No Youtube é possível assistir um pouco o lado artístico desse cervejeiro: https://www.youtube.com/watch?v=SnAtpnGjtx4

Grupo Bons Tempos (Alfeu é o 4º da esquerda pra direita) [2]

Mais recentemente (em 2012), Alfeu voltou a subir aos palcos com o grupo Lá se Vão Meus Anéis (com outros dois integrantes do Bons Tempos), tocando clássicos do samba de raíz novamente.

Que Alfeu e seus sócios continuem inspirados por muito mais tempo para nos brindar com outras boas cervejas artesanais que celebrem a boa música. 


Notas:
[1] Informações repassadas por Alfeu Julio durante a visita guiada à fábrica, e que se encontram disponível no site oficial da Toca da Mangava.

[2] Foto obtida em http://www.blognarua.com.br/category/sem-categoria/page/15/. As demais fotos são de minha autoria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário