sábado, 18 de fevereiro de 2017

Qual o mistério da Xamã?

Kûarasy e Îasy (fonte: vídeo promocional https://vimeo.com/202228851)

Grafite com Leminski no Fidel
Um dos meus bares prediletos em Curitiba é o descontraído Fidel. Trata-se de um local que, além de abrir espaço para bons músicos (toda sexta, por exemplo, tem chorinho da melhor qualidade), possui um ambiente agradável, sem fronteiras entre a área interna e a calçada à frente, por onde circula seu fiel público. Na entrada, um grafite com Paulo Leminski já dá pistas sobre o clima do bar. Como se não bastasse, Carlos (proprietário) e sua equipe sempre mantém à disposição, além de cervejas para todos os gostos, algumas opções de cerveja artesanal servida nas torneiras. E foi lá que no ano passado fui apresentado às cervejas Xamã, mais uma ótima artesanal proveniente da região de Curitiba.
Com o costume de frequentar o bar e saborear aquela até então desconhecida cerveja para mim, sempre ficava com curiosidade para saber mais sobre a Xamã.

Até que no último domingo (12/02) tive a oportunidade de conhecer de perto a galera da Xamã quando organizaram, em conjunto com o CasaTreze Studio, o lançamento duas novas cervejas (Îasy e Kûarasy) em um descolado bar da Trajano (Purple Reis) no evento denominado Apamonama [1].

Helinho Brandão e Banda no Purple Reis 
Chegando lá, me deparei com um pub jovem, ambiente descontraído e com pessoal bem antenado. Além dos chopes artesanais servidos em torneiras, há cervejas em garrafas e, para comer, boas fatias de pizza. Naquele dia tinha ainda uma galera fazendo tatoos como parte da programação especial. No início da noite, o ótimo jazz do Helinho Brandão e Banda, figura carimbada da boa música curitibana. Ao que parece, ele toca todos os domingos no local.


Lula e Michel, cervejeiros da Xamã, no lançamento das beras
Junto do balcão, enquanto era servido, finalmente conheci dois dos três sócios responsáveis pela Xamã (Luiz “Lula” e Michel – o outro chama-se Leonardo). Além do fato dos três jovens serem amigos de longa data, e engenheiros químicos, descobri que Lula e Leonardo trabalharam antes, durante alguns anos, na Ambev. Já Michel trabalha em empresa de tratamento de água. Ou seja, conhecem por dentro não só toda a engrenagem de uma gigante indústria da cerveja, mas também de características fundamentais de seu processo produtivo e, com isso, adquiriram uma experiência a mais para, juntos, fazerem suas próprias cervas.

Em meados de 2014, resolveram fazer a cerveja como eles gostariam: com pleno controle sobre o produto, utilizando matéria prima de primeira e aproximando a cerveja da arte. Foi com esse intuito que, desde o início, buscaram estabelecer parcerias com coletivos/artistas da cidade a cada nova receita, misturando cerveja com arte de forma efetiva.

Ao longo de sua existência, antes desses últimos lançamentos, já tinham feito diversas parcerias, tais como:
-  English Pale Ale, com @vitorsquash, idealizador da marca;
- AmarguIPA, com Eduardo Milek, uma American IPA;
- SummerIPA, com Estelle Flores (@estelleflores), uma Session IPA;
- Boiuna, com Das Nuvens, uma Pilsen;
- Yunaluna, com Wake Up Colab, uma Dark IPA;
- Yagé APA, com CCC - Clube da Colagem de Curitiba;

Agora a Xamã tem como meta para meados de 2017, abrir  junto da pequena fábrica, localizada no Boqueirão, um espaço para receber degustadores e ampliar a produção. A depender do sucesso da empreitada, quem sabe poderão se dedicar exclusivamente a produção de suas beras, já que atualmente ainda dividem tempo com seus empregos durante a semana.

Tábua de cervejas oferecidas no evento,
com destaque para as duas da Xamã
Enquanto isso não ocorre, seguem criando novas cervejas em parcerias e rompendo paradigmas. Nesse domingo, pude degustar a Witbier Îasy (Lua em tupi antigo) e a Vienna Lager Kûarasy (Sol – em tupi antigo), resultado das parceiras com o CasaTreze Studio (@CasaTreze) e Rádio Treze (@RadioTreze). Entre as duas, por questões pessoais, me chamou mais a atenção a Kûarasy, uma Vienna Lager bem equilibrada e com notas caramelizadas sem perder o amargo decorrente do seu lúpulo. Ressalta-se que o nome desse estilo vem tipo de malte que usa. Já a Îasy tem a refrescância de uma tradicional Witbier, bem leve, aromas cítricos e final seco. Mas rompendo com a ortodoxia que às vezes caracteriza tradicionais cervejeiros, a Xamã procura estimular que os apreciadores arrisquem na degustação e misturassem as duas cervejas (na proporção que desejassem) para descobrir um novo sabor. Entrando no clima, aceitei a proposta, com a sensação de quem estivesse fazendo alguma contravenção. E confesso que o resultado me surpreendeu positivamente.

Essa abertura a novas propostas e o estreitamento com seu público ficaram bem caracterizados no vídeo promocional que lançaram na ocasião, resultado da parceria com o CasaTreze Studio. Recomendo que conheçam o vídeo,  disponível no Vímeo (para ver, clique aqui ou procure no Vímeo por Cervejaria Xamã).

Enfim, inovando na linguagem e nas cervejas, a Xamã apresenta-se, de fato, como outra boa alternativa de cerveja artesanal no mercado de Curitiba, reflexo de uma verdadeira revolução em curso não só nessa cidade, mas em grande parte do Brasil. Que seus cervejeiros continuem inspirados na busca por representar com sabor, a arte. Os apreciadores como eu agradecem.

Nota: [1] nome que vem do tupi antigo e significa misturar, remexer. 

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