domingo, 12 de fevereiro de 2017

Abre alas que a Bertol quer passar

O cervejeiro Evandro Bertol e Julieta

Depois da postagem sobre as cervejas descobertas em Pato Branco, o cervejeiro responsável pela elogiada Bertol Witbier Siciliana entrou em contato comigo (ver http://revolucaoartesanal.blogspot.com.br/2017/01/witbier-em-pato-branco-e-outras.html). Trata-se de Evandro Bertol. Produz sua cerveja em casa mesmo e, embora resida em Curitiba, o único bar que até agora disponibiliza suas cervejas é o Mecânica Meat’n Beer, em Pato Branco.

Bastards Jean Le Blanc, degustada no Drakkar
Combinei de encontrá-lo para que pudesse descobrir – e relatar – mais detalhes sobre sua produção. O fato de fazê-la em Curitiba, relativamente perto de onde moro, mas só tê-la descoberto a 450 km daqui mereceria uma investigação. Seguindo sugestão do cervejeiro, marcamos de nos encontrarmos na Drakkar (https://www.facebook.com/drakkarbeerfood/), um bar cervejeiro que, como fica no bairro Água Verde (distante de onde resido e trabalho) e é relativamente novo, não conhecia. Ambiente agradável, diversas torneiras com artesanais paranaenses como a Bastards, Swamp e a Queen’s (essa última de Arapongas) e o som do violão de Fábio Elias (do Relespública) fazem do local mais do que um bar, mas um centro de divulgação das cervejas artesanais, já que inclusive serve constantemente como ponto de encontro dos cervejeiros. Gostei bastante. Entre as cervejas que tomei naquela noite, destaque para a Bastards Jean Le  Blanc, uma witbier bem turva e com sabor persistente, cuja cervejaria merecerá uma postagem específica. 

Foi nesse ambiente cervejeiro que conheci pessoalmente o responsável pelas cervejas Bertol, juntamente com sua família (a companheira Julieta e suas filhas gêmeas). Com o entusiasmo típico de quem produz suas cervejas artesanalmente, Evandro contou-me que aprendeu por conta própria, assistindo vídeos e lendo artigos na internet no final de 2012. Posteriormente fez alguns cursos específicos, para algum estilo ou ainda para identificar off flavors [1].
   
O que começou como um agradável hobby, foi ficando sério quando, incentivado por sua companheira, passou a inscrever suas cervas em concursos pelo Brasil afora. Sem maiores pretensões, o interesse dele, a princípio, era obter um feedback por parte dos jurados e poder aprimorá-las. Entretanto acabou conseguindo mais sucesso do que esperava: a Witbier Siciliana, em 2016, acabou finalista e medalha de bronze no Bierville 2016, concurso promovido pela cervejaria Opa de Joinville. Ou seja, não fui só eu que achei esta cerveja surpreendente quando experimentei em Pato Branco. Ele me contou que buscando aprimorar sua Witbier, optou por utilizar as semente do coentro importada (e com menor quantidade), trocando ainda a casca de laranja da receita tradicional por limão siciliano para dar um toque especial, aprimorando a fragrância cítrica mas mantendo as características deste estilo belga.

Baltic Porter Bertol
Além dessa, a Baltic Porter do Evandro Bertol também foi finalista em um Festival Brasileiro de Cervejas Artesanais de 2016. De modo geral, a Baltic Porter é um estilo híbrido entre a tradicional Porter inglesa, mas feita com fermentos da Lager, utilizado nos países do mar Báltico (Letônia, Lituânia, Estônia, Finlândia,...). Para minha sorte, fui gentilmente presenteado com uma garrafa dessas que estou experimentando neste exato momento, aproveitando uma noite chuvosa e com temperatura mais amena, ideal para esse estilo de cerva. Bastante carbonatada, 8,0% e 40 IBU, tem espuma persistente e uma coloração marron escura. A grande surpresa foi a identificação de coco queimado entre os maltes torrados característicos do estilo. Outra cerveja que surpreendeu positivamente o paladar.

E foi com esse repertório de artesanais que nos últimos meses Evandro Bertol deixou de fazer cerveja exclusivamente para consumo próprio e passou a entregar cervejas na Mecânica em Pato Branco, cidade natal onde encontrou espaço na Mecânica Meat’n Beer para isso. Ciente do potencial, atualmente está em busca de algum local para que possa produzir sua cerveja ao melhor estilo de um cervejeiro cigano [2]. Com essas qualidades de suas cervejas, certamente terá público em Curitiba. Os apreciadores de cerveja artesanal como eu agradecerão.

Notas 
[1] Off flavors são sabores indesejáveis em uma cerveja, defeito proveniente do processo de fabricação, ou do envasamento ou ainda armazenamento. Esses defeitos são sensorialmente perceptíveis e seus aromas e sabores estão descritos na roda sensorial de atributos. Sobre a roda sensorial, abordaremos em outra postagem. Muitos blogs e livros abordam o tema devido à sua importância, como por exemplo: http://www.escoladacerveja.com.br/voce-sabe-o-que-sao-os-off-flavors-das-cervejas/

[2] Cervejeiros ciganos são aqueles artesanais que, visando ampliar a capacidade de produção, acabam alugando espaço disponível em outras cervejarias. Para ir mais longe: http://www.gazetadopovo.com.br/bomgourmet/o-que-sao-e-como-funcionam-cervejarias-ciganas/ 

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